A vida nos permite escolher o que queremos ou não na nossa vida , quem queremos que faça parte dela ou não. Que bom que a gente tem essa opção.
Hoje eu me decido tirar quem precisa ser tirado...
simplesmente porque é bem melhor assim.
Sem grandes alardes, sem grandes confusões... com grande paz na verdade.
Vc tenta, tenta, até um ponto em que vc precisa dizer chega. Até aqui eu quis, a partir daqui não quero mais. Eu escolho seguir , mas escolho também quem devo levar comigo.
Essa é minha decisão por hora...
Abrindo espaço para que novas amizades venham, pessoas que possam ficar definitivamente e que nos façam bem. Ninguém precisa de alguém que te coloca para baixo , que te humilha na oportunidade que ela encontra... inflizmente acha que tá te colocando para cima, mas na verdade só te derruba. Não precisamos de pessoas assim conosco, não mesmo.
Então, que a vida traga novos ares, novas pessoas, pessoas que nos admirem... que enxerguem os detalhes, que enxerguem o que a grande maioria das pessoas não conseguem enxergar, que mesmo diante da montanha de pedregulhos... mesmo diante da montanha de nada, literalmente nada ou de merda mesmo ( com o perdão da palavra), consiga simplesmente não enxergar nada disso, mas enxergue o que tá oculto, o que tá lá no findinho de baixo de toda aquela porcaria. Que enxergue o que há de bom... e o que é mais intrigante, sem que façamos o menor esforço de sermos enxergados.
Eu escolho quem fica e peço licença para que se retire , por favor.
O bom é que é com grande tranquilidade e espero que assim permaneça.
...
No mais, precisando retomar meus estudos e querendo chegar a algum lugar.
Estou preparando o terreno para voltar a essa realidade de concursos. Na verdade , para voltar para esse outro planeta que se chama concurso.
Fazia muito tempo que não lia tetemunhos daqueles que conseguiram chegar lá, hoje em uma conversa com minha prima me lebrei dos tais testemunhos e resolvi ler um para me inspirar novamente.
E hoje trago um que mexeu comigo e acredito que deva mexer com muita gente. Foi um grande tapa na cara que levei... se ela conseguiu, eu também consigo.
Reclamo tanto, coloco mil dificuldades e ainda sim perto da história dela e de tantas outras ainda tenho uma vida muito perfeita.
Que eu possa verdadeiramente me motivar e voltar de onde parei...
voltar para os fins de semana sem fins de semana... sábados inteiros fazendo módulos, as vezes domingos também. Era tão bom. Era extremamente cansativo, mas era maravilhoso, prq eu tinha a minha volta pessoas que me entendiam, que viviam o que eu vivia, eu podia falar o que fosse e eles sabiam do que eu estava falando, porque eles viviam a mesma coisa. Valia a pena conversar com eles prq eu sentia como se não estivesse jogando as minhas pérolas aos porcos.
Com nossas amizades tb é assim se o outro não entende suas preciosidades, não perca tempo jogando suas pérolas a eles.
...
Voltando, senti falta das meninas. Senti falta da Je, da paty, da Glenda, da Adélia...
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Testemunho tirado do site do Ponto dos Concursos
Lívia Marinho
Ex-catadora de lixo se torna servidora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
O que parecia um sonho impossível,
com muita determinação, dedicação e esforço foi se tornando realidade.
Hoje, Lívia Marinho, 39 anos, moradora de Del Castilho, zona Norte do
Rio e mãe de três lindas meninas, é técnica judiciária do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro e continua em busca de novas realizações. Com
uma infância difícil, tendo que começar a trabalhar muito nova como
catadora de lixo, na cidade de Duque de Caxias, e com a juventude
voltada para a realidade difícil do comércio, Lívia quebrou o protocolo e
venceu os desafios.
Tudo começou há 11 anos, em 2002, quando
Lívia foi parar no hospital após sofrer uma forte dor renal, tendo que
se ausentar do trabalho. Quando voltou, ainda no mesmo dia, sua gerente
desconfiou que estivesse mentindo, já que era véspera de Natal. Com uma
forte sensação de constrangimento e humilhação, Lívia decidiu, naquele
momento, mudar os rumos da sua história.
Várias foram as dificuldades -
financeiras, familiares, de formação escolar – já que ela ainda não
tinha terminado o ensino médio e decidiu fazer um concurso que exigia
tal formação. A história da ex-catadora, que hoje é servidora do TJ/RJ, é
emocionante e vai inspirar boa parte das pessoas que, por tão pouco,
ainda reclamam das dificuldades.
Foi um ano de dedicação exclusiva, em
que, além de estudar para concurso, Lívia teve que concluir seu ensino
médio e estudar para as provas.
Se valeu a pena? Confira a entrevista abaixo e descubra:
- Lívia, em primeiro lugar, gostaríamos de saber, com detalhes, o que motivou essa reviravolta em sua vida?
Em 2002, eu estava trabalhando
ardorosamente no comércio, rotina que perdurava por mais de 11 anos.
Cheguei a trabalhar em duas lojas ao mesmo tempo, no mesmo shopping,
para conseguir dar uma vida bacana para as minhas três filhas, que, na
época, eram bem pequenas.
Vocês podem imaginar o cansaço de entrar
em uma loja pela manhã e só sair da última loja tarde da noite?
Cansada, com dores na coluna e nas pernas, segui assim por todo aquele
ano.
É fato que, naquela época, trabalhar
dessa forma não me causava nenhuma estranheza, já que eu havia passado
toda a minha adolescência trabalhando, revirando lixos e catando latas e
material que pudessem ser vendidos em ferros velhos para sobreviver.
Logo, trabalhar 14 horas por dia, em média, parecia tranquilo. Contudo,
tive um sério problema renal causado por horas contendo-me para não ir
ao banheiro e não perder a comissão de vendas, o que culminou em uma
crise terrível no dia 23 de dezembro de 2002.
Saí da loja aos gritos de dor. Fui
levada ao Posto de Atendimento Médico (PAM) e medicada com injeções que
me permitiram voltar a trabalhar ainda naquele dia. Mesmo tendo a
receita em mãos, com a data e o carimbo do médico, e tendo retornado no
mesmo dia ao trabalho, a dona da loja duvidou de mim. Ela me disse que
não acreditava que eu tivesse passado mal e aquilo me causou mais dor do
que a renal que eu havia sentido. Era uma dor que não se explica. Uma
espécie de humilhação amarga que eu não achei que merecesse passar. Isso
me motivou a sair.
- Quanto tempo você levou para alcançar esse objetivo?
Bem, decidi fazer concurso em janeiro de
2003. Depois do sentimento de vergonha e humilhação, achei que não
podia continuar no comércio. Logo em seguida, pedi para que me mandassem
embora e passei todo o ano de 2003 estudando. Acho que levei dez meses
extremamente intensos de preparação.
- No início dos estudos, quais foram suas maiores dificuldades?
Eram tantas as dificuldades que, se na
época eu parasse para enumerá-las, teria desistido: eu tinha um péssimo
casamento, sem apoio financeiro ou moral; já tinha três filhas, uma com
três anos, outra com quatro e outra com seis. Estava desempregada e todo
o dinheiro da minha indenização (que, aliás, não foi muita coisa)
investi em um curso preparatório, logo, era minha última e única chance.
Além disso, decidi fazer um concurso de nível médio para um tribunal: o
detalhe é que eu não tinha ensino médio. Matriculei-me então em um
Centro de Ensino Supletivo do Estado - CES (sistema de estudo por
módulos que nos permite fazer provas diárias para eliminar bimestres).
Nesse contexto caótico, pactuei com as
minhas filhas. Parecia difícil conversar com três crianças e dizer a
elas: “mamãe vai se ausentar ainda mais para estudar, mas prometo que
vai valer a pena”, mas conversamos e deu tudo certo. Bastava agora
conciliar as matérias de português, matemática, física, química,
geografia, CODJERJ, Estatuto Estadual, Noções de Direito... Enfim, minha
cabeça parecia um caos ao final do dia e eu não podia me dar ao luxo de
parar. Eu sabia que concorreriam comigo pessoas formadas, inclusive em
Direito, e eu sequer tinha o ensino médio.
Saía de casa às 5h45 da manhã, ia para o
CES, estudava as matérias e fazia pelo menos três provas por dia.
Depois, com a blusa do colégio e a carteirinha - porque nunca teria
conseguido dinheiro para subsidiar a passagem para o curso e para o
retorno para casa se não fosse o fato de estudar em colégio estadual e
ter gratuidade de transporte, corria para o curso preparatório.
Entrava no curso às 13h e a aula acabava
às 18h. Após esse horário, eu ficava pelo curso estudando até que ele
fechasse, às 22h. Chegava a casa por volta das 23h, tomava banho e comia
a minha única refeição do dia. Colocava meu relógio para despertar às
3h da manhã, porque eu sabia que não adiantaria tanto esforço se eu não
me colocasse no mesmo nível de quem já vinha estudando. Eu morria de
medo do tal “japonês”. Explico: uma vez fui ao banheiro no curso e atrás
da porta dizia: “Enquanto você está aqui, há um japonês estudando para
tirar a sua vaga”. Agora é engraçado, mas nunca mais fui ao banheiro e
passei a querer vencer o tal japa (risos).
- No meio do processo, quais
foram suas maiores motivações? Uma vez que deixou o trabalho para se
dedicar aos estudos, a necessidade financeira te levou ao desânimo?
Não tive desânimo, não dava tempo! Eu
ocupei todos os espaços do meu tempo com o meu objetivo. Minha motivação
era poder estar com minhas filhas em momentos que nunca pude estar:
Natal (eu chegava tão tarde que elas já estavam dormindo) e Dia das Mães
(parece que vendedores não têm filhos. Passamos o tempo todo vendendo
presentes e nós mesmos não podíamos, sequer, estar ao lado dos nossos
filhos nessas datas). Enfim, minha motivação era a possibilidade de ter
um final de semana sem trabalhar, um feriado em casa e não precisar
vender minhas férias. Eu queria tempo, mas sabia que tinha que
investi-lo para recebê-lo de volta um pouco maior.
Claro que, muitas vezes, eu me sentia
cansada, dormia pouquíssimas horas, passava o dia com cinco pacotinhos
de amendoim (era o que eu podia consumir com o dinheiro que eu dispunha
por dia. Naquela época, cinco pacotinhos era um real, vejam a inflação!
risos), mas conheci amigos no curso e na busca de incentivá-los, acabei
me incentivando também.
- Como foi começar essa preparação já sendo mãe de três filhas?
Como disse, após os quatro anos da minha
adolescência em que fui catadora de lixo, sempre trabalhei no comércio
com uma rotina extremamente pesada. Eu tinha uma pessoa que olhava as
minhas filhas para que eu pudesse trabalhar e que continuou cuidando
delas para que eu estudasse. Minha única fonte de renda nesse período
foi o auxílio desemprego que tinha prazo certo para acabar. Quando
acabou, tive que conciliar o estudo com algumas faxinas e passagens de
roupa, na casa de uma colega do curso. Enquanto eu passava roupa,
repassávamos os pontos das matérias.
Gisele tornou-se uma das minhas melhores
amigas até hoje. Sei que, naquela época, a mãe dela me aceitou para
passar roupa porque sabia da minha necessidade. Nunca quis nada de graça
e nos dias em que eu trabalhava na casa dela, que eram os dias em que
não havia aula, eu tinha as refeições, estudava e ainda ganhava um
dinheiro bacana. Somos amigas até hoje e aprendemos, com a vida, que as
dificuldades nos moldam o caráter e nos criam uma couraça que nos
permite vencê-las.
Cansei de levar as minhas filhas para um
shopping próximo à minha casa nos finais de semana e dizer a elas:
“Hoje vamos ao parquinho!”. No tal shopping havia um supermercado que
tinha uma área em que as crianças ficavam brincando, para que os pais
fizessem compras, e ali era o parquinho que eu as levava. Eu ficava do
lado de fora, olhando-as e estudando. Era tão difícil, dolorido e
cansativo, mas nunca foi impossível.
- Quais foram suas técnicas de estudo? Estudava em cursos presenciais e online? Quantas horas por dia se dedicava aos estudos?
Acho que a minha realidade não se aplica
aos padrões de ensino-aprendizagem ensinado nas faculdades. Eu tinha
necessidades prementes, entende? Eu estudava durante todo o dia.
Começava das 3h às 5h da manhã em casa e depois das 6h30 às 22h. Eu não
tinha o ensino médio, eu não sabia nenhuma das regras de Direito, eu não
sabia português... Era urgente que eu me dedicasse.
Não havia curso online na época, e,
ainda que houvesse, eu não tinha computador. Aliás, eu não tinha sequer
códigos, a Constituição Brasileira ou uma gramática. O meu primeiro
código eu ganhei de um professor do curso que eu frequentava. O
professor Alberto Louvera me viu escrevendo tudo que ele falava,
inclusive os artigos. Ele falou comigo que não precisava anotar, estava
tudo no código, eu respondi que não tinha código e então ele me deu o
dele, que eu guardo até hoje comigo.
- O que considera como negativo na sua preparação?
Não considero que tenha havido algo negativo, acho que tudo me deu resistência.
- Como e quando foi a notícia da sua aprovação?
Fiz dois concursos no período: TRF e
TJ/RJ. Passei para os dois, mas não esperava ser chamada, então, em
janeiro de 2004 precisei voltar a trabalhar. O dinheiro do auxílio
desemprego havia acabado e uma colega do curso me conseguiu um emprego
em um escritório de advocacia.
Veja bem, a conclusão do meu ensino
médio foi em abril de 2004 e em maio de 2004 saiu a lista de
classificação. Fui convocada no Diário Oficial em julho de 2004 e não
sabia. Outra colega do curso, que acompanhava as convocações, me ligou
no trabalho e, no momento, eu tive vontade de gritar - mas estava
trabalhando. Segurei a onda e fui falar com a minha chefe, que, hoje, é
uma grande amiga. Era tanta emoção que parecia que eu iria explodir,
aliás, tive uma dor de cabeça súbita, acho que foi porque contive o
grito.
Em julho também fui convocada para a
prova prática do TRF, mas, infelizmente, fui reprovada na prova de
digitação. Também, nem tinha computador (risos). Comecei a trabalhar no
TJ em agosto de 2004 e, no mesmo dia em que tomei posse, matriculei-me
na faculdade de Letras e comecei a realizar alguns sonhos.
- Quais as principais mudanças em sua vida, agora, como servidora pública?
Bem, eu preciso me estender só mais um
pouquinho e contar mais uma coisa para vocês. Eu trabalhei durante 12
anos no comércio e, antes disso, quatro anos como catadora de latas,
nunca tirei férias. Quando comecei a trabalhar, em agosto de 2004, a
Diretora do Departamento onde fui lotada estava começando a organizar a
listagem de férias, que tinha que ser publicada dali a dois meses. Como
era um departamento enorme, ela chegou pra mim e perguntou: “Quando você
quer tirar suas férias?”. Eu fiquei tão emocionada que comecei a chorar
(risos). Na hora, ela não entendeu nada.
Vamos às mudanças:
No campo intelectual: fiz faculdade de
letras, pós-graduação em LP e estou cursando um MBA em Gerenciamento de
Projetos pagos pelo TJ/RJ;
No campo emocional: eu e minhas filhas passamos a ter tempo juntas e ganhamos qualidade de vida.
Em 2006, decidi fazer um novo concurso e
reencontrei o meu primeiro namorado, em uma sala de aula do curso
preparatório. Não continuamos nosso projeto de concurso naquela época,
mas começamos a namorar e nos casamos em 2008. Viram como estudar é
excelente em vários aspectos?
No campo financeiro: como ambos somos
servidores públicos, pudemos contar com nossa estabilidade e comprar um
apartamento e um carro, coisa que uma ex-catadora de lixo jamais
esperaria almejar e realizar.
Na vida: imagino que esse não seja o
canal adequado para o que vou dizer, mas não posso calar esse meu
aspecto também. Sempre acreditei em Deus, foi à ele que confessava meus
medos e cansaços durante toda minha preparação. Passar em um concurso
como esse aumentou minha fé. É muito difícil olhar para trás e ver tudo o
que passei, inclusive as datas em que tudo aconteceu, sem crer que
houve um milagre.
- Hoje você continua estudando? Almeja um novo cargo?
Continuo estudando. Existem dois
pensamentos que acalento e que se sintetizam em duas frases que me
norteiam. Uma de Florbela Espanca diz o seguinte: “tenho fome e sede de
infinito”, a outra, minha, diz o seguinte: “se você não decidir mudar,
já decidiu ficar na mesma”. Sendo assim, comecei minha preparação para a
área fiscal ou para alguma das agências reguladoras para cargos de
nível superior, afinal, não adianta acomodar-me no meu cargo público e
fazer o coro dos baixos salários e não fazer alguma coisa para mudar.
Estou em constante processo de mudança.
- Quais dicas você dá para quem continua buscando a aprovação?
Primeiro a de que não se pode desistir.
Às vezes, o desânimo, cansaço e desmotivação batem à porta. Desistir é a
única opção que não se deve utilizar. Otimize seu tempo. Reorganize-o. O
tempo pode ser um aliado ou seu algoz. Seja organizado.
Fuja de coisas ou pessoas que te possam
tirar do foco: se faz curso online, discipline-se o suficiente para não
alternar as aulas com e-mails, redes sociais ou outras notícias que lhe
tirem tempo precioso de estudo. Trabalhe com um relógio despertador ao
lado. Se estiver cansado de estudar e precisar se distrair um pouco,
coloque o relógio para despertar te avisando do seu retorno ao estudo.
Não perca a fé. Mesmo que pareça
impossível, não é. Peça apoio à família, amigos, pactue... Enfim, mudar
paradigmas é um dos passos para uma boa preparação, o restante, cada um,
com sua própria experiência, encontrará.
- Tem alguma frase, momento ou situação que mais tenha te marcado e motivado durante a sua preparação?
Apesar de a entrevista não ter se
enveredado para esse ponto, preciso falar de alguém que me motivou muito
no período de minha aprovação: o Sr. Mauro Lasmar. Na época em que eu
fazia o curso preparatório, houve um dia de aula que não foi ministrado e
os alunos pediram o dinheiro de volta. Eu não queria o dinheiro, não me
adiantaria de nada e não me ajudaria a passar. Escrevi uma carta à
direção do curso, naquela época era o maior curso preparatório do Rio,
com algumas laudas, explicando-lhes toda a minha história e a minha
necessidade de estudar. O Sr. Mauro, com a sensibilidade de educador que
sempre lhe foi peculiar, ligou para minha casa e me ofereceu “carta
branca” para que eu estudasse no curso até que eu passasse. Ele me
disse: “li sua carta e tenho certeza de que você será aprovada, em
breve, no próximo concurso que fizer e quero participar da sua
aprovação”. O curso que eu havia pago não teria dado para que eu
estudasse durante todo o ano de 2003. Foi depois da deliberação generosa
do Mauro que consegui assistir as aulas dos professores feras que havia
naquele tempo, e que continuam fazendo a diferença hoje. Sou
eternamente grata, especialmente, ao Mauro Lasmar que, mesmo sem saber,
foi um canal de bênção na minha vida.
- Se alguém te perguntasse
sobre a lição que tirou de toda essa história de abdicações, sacrifícios
e superação, qual seria a sua?
Passaram-se dez anos. As minhas filhas,
hoje, têm 13, 15 e 19 anos; a mais nova está no último ano do ensino
fundamental, é uma ávida leitora e diz querer ser juíza ao crescer. A do
meio está se preparando para o vestibular e quer ser médica e a mais
velha cursa faculdade pública na área de educação. O tempo passou e eu
lutei muito para que a mudança se constituísse em nossas vidas de
maneira a transformar-nos em uma família feliz e unida, apesar de todas
as dificuldades. O tempo também teria passado se eu não tivesse
estudado, se eu ainda estivesse no comércio ou se ainda catasse latas
para sobreviver.
Teriam se passado os mesmos dez anos. A
diferença é que hoje vocês me procuraram porque eu fugi da rota de
colisão da minha vida, e isso mudou drasticamente o meu presente. Mudou
porque eu decidi que, mesmos que houvesse sacrifícios, eu não queria
mais aquela vida para mim.
Saí de uma zona de conforto e me
coloquei em uma posição extremamente nova. O que tiro de lição? Valeu a
pena! Valeu muito mesmo. O impossível é questão de perspectiva, a minha é
que não há. Agora, rumo ao novo concurso, seja lá o tempo que isso leve
para acontecer!
- Hoje, o que te dá mais prazer como servidora pública?
Caríssimos, em que pesem as críticas que
se fazem ao judiciário estadual no tocante à demora dos seus julgados,
ao excesso de serviço e à precariedade das remunerações, eu sou muito
feliz e realizada no TJ/RJ. Exerço, desde 2009, um cargo de chefia e
gerencio um projeto para erradicar o sub-registro civil no nosso estado.
É engraçado, mas o TJ/RJ me proporcionou voltar às minhas origens de
miséria e propiciar à população carente acesso à documentação básica.
Desenvolver esse projeto me possibilitou conhecer pessoas poderosas e
dar orientações e palestras em que estiveram presentes membros do
Ministério Público, da DP e juízes. É incrível, mas aquela ex-catadora,
hoje, desenvolve trabalhos de cunho social inclusive com catadores de
Jardim Gramacho. Há muito mais entre o céu e a terra, não é?
Além disso, ministro aulas de Língua
Portuguesa e de procedimentos administrativos na ESAJ, Escola de
Administração Judiciária, e ainda sou remunerada por isso, pode? Sei que
exercer função social e educativa dentro do TJ é simplesmente a
complementação de um sonho, mas nada disso teria sido possível sem
esforço, cansaço e a dedicação que são inerentes aos estudos voltados
para concursos. Valeu à pena na minha época e a receita continua a mesma
para hoje. Beijos a todos.
Lívia, é um imenso prazer para o
Ponto poder contar e compartilhar histórias como a sua. Muito obrigada
pela disponibilidade e que continue a crescer no lado pessoal e
profissional da sua vida!